Empresas que coletam óleo e gordura
de cozinha, usados em restaurantes nos Estados Unidos, começaram a adotar novos
tipos de proteção nos últimos anos: investigadores particulares, câmeras de
vigilância, alarmes contra roubo. Mesmo assim, recipientes cheios de óleo de
cozinha usado estão sumindo.
Durante anos, os restaurantes tiveram
que pagar essas empresas para retirar a gordura usada, que era então
reutilizada principalmente para alimentar animais. Alguns restaurantes doavam a
gordura para fãs de automóveis, que a reaproveitavam para produzir biodiesel.
Mas com a demanda por biocombustível
em alta, o óleo de fritura agora faz parte de um mercado em ascensão, valendo
cerca de US$ 0,40 o quilo, cerca de quatro vezes mais do que valia há 10 anos.
Isso o torna um alvo tentador nestes tempos difíceis.
A Califórnia e agora a Virgínia
promulgaram leis especiais que regularizam a coleta de óleo e gordura usados em
cozinhas comerciais - legisladores da Carolina do Norte talvez votem em uma lei
semelhante em maio. Mas enquanto alguns policiais, especialmente na Califórnia,
se tornaram cada vez mais atentos ao problema, os tribunais ficaram para trás e
deixaram de acompanhar a tendência.
"É muito difícil convencer
promotores do Estado a levar este assunto a sério", disse Douglas Hepper,
chefe da agência do Estado da Califórnia que regula a eliminação da gordura.
"Eles estão mais ocupados com assassinatos e laboratórios de metanfetamina
e têm orçamentos limitados, então precisam definir suas prioridades."
Poucos casos vão a julgamento e,
quando são julgados, os criminosos muitas vezes recebem uma pequena multa e
saem livres novamente, retomando as suas atividades.
Em um episódio de "Os
Simpsons" de 1998, Homer tenta ganhar um dinheiro fácil vendendo óleo de
cozinha usado. Mas durante anos as autoridades policiais pareciam desconhecer
que o óleo estava sendo roubado por transportadores não licenciados, causando
milhões de dólares em prejuízos para a indústria de processamento todos os
anos.
Não é fácil convencer o Ministério
Público sobre a importância do assunto. Jon A. Jaworski, um advogado de Houston
que representa pessoas acusadas de roubar óleo e gordura usados, disse que no
início de 1990 ele venceu mais de uma dúzia de casos argumentando que a gordura
deve ser considerada propriedade abandonada e, portanto, deixada para que
qualquer um possa recolhê-la - para ele, seria como vasculhar o lixo.
A gordura é muitas vezes armazenada
dentro de lixeiras pretas e deixada em becos. Ela tem um péssimo cheiro e por
isso a coleta ocorre geralmente no meio da noite.
Mas a indústria de processamento tem
tentado bloquear o crescimento deste mercado, impulsionado pela alta demanda do
biodiesel. Muitos restaurantes têm agora contratos com empresas de coleta para
vender sua gordura por quase US$ 300 o contêiner.
À medida que as empresas têm
investido mais tempo e dinheiro em esforços de lobby no setor, a polícia
começou a prestar mais atenção ao problema. Randall C. Stuewe, presidente da
Darling Internacional, a maior empresa do setor, disse ter registrado cem
prisões em 2011.
A Califórnia assumiu a liderança na
repressão aos furtos. Em outubro, o Departamento de Alimentação e Agricultura
do Estado iniciou um programa com os departamentos de polícia locais para
proteger as áreas mais frequentemente atingidas. Desde o início de dezembro, a
polícia capturou e acusou cinco pessoas suspeitas de roubo de gordura, que
provavelmente serão multadas. Eles vão anunciar os resultados completos do
programa piloto em breve, e devem expandi-lo para outras partes do Estado,
disse Hepper.
Transformar as prisões em condenações
com penas grandes o suficiente para impedir que o roubo aconteça novamente é
algo difícil, em parte porque não é possível determinar não apenas o valor da
gordura roubada, mas também o quanto foi roubado e de onde. Os ladrões
normalmente passam por vários restaurantes em uma noite, despejando o material
em caminhões-tanque ou em barris no porta malas de uma van.
Frustradas, empresas maiores como a
Darling, começaram a contratar advogados para entrar com processos civis contra
os ladrões em uma tentativa de recuperar suas perdas. "A recepção na corte
municipal é muito desigual", disse Steven T. Singer, um advogado
contratado em Nova Jersey pela Darling. "Você depende muito dos promotores
públicos e por isso tem que fazê-los entender a gravidade deste problema, assim
como o juiz."
Nos últimos dois anos, Darling, que
possui cerca de dois mil caminhões que coletam gordura em diferentes locais em
42 Estados, entrou com duas ações civis contra empresas acusadas de roubar a
sua gordura e recebeu cerca de US$ 60 mil pelos danos.
Para empresas menores, como a
Sacramento Rendering, que atende cerca de 2,5 mil restaurantes no Norte da
Califórnia, contratar advogados para uma disputa no tribunal civil pode não
valer a pena devido aos gastos. Michael Koewler, presidente do Sacramento
Rendering, estima que perde cerca de 50 mil quilos de gordura pura por semana -
cerca de US$ 750 mil por ano de lucro perdido.
Numa noite no final de novembro, um
funcionário fazia seu trajeto mensal por Sacramento - um Burger King aqui, um
Taco Bell ali. Ele abriu a tampa de 22 recipientes de gordura. Apenas dois
tinham gordura para a coleta.
"Não quero ter que contratar um
advogado para ir atrás de todas essas coisas", disse Koewler.
"Prefiro que o Estado, que é obrigado a fazer cumprir a lei, faça a sua
parte."
Por Steven Yaccino